19 de janeiro de 2011

Trocando idéia.

Já eram quase dez  e meia da noite e uma garota, segurando a coleira com um cão vira-lata branco, andava em um bairro residencial da zona sul em busca de cigarros. O cachorro, seu melhor amigo. Ela, vinte e poucos anos e uma cabeça que não parava de girar. Poucas estrelas no céu típico da Grande São Paulo, muitas nuvens, um vento fresco e o verão no auge. 

Naquela noite, aconteceu uma conversa telepática entre a menina e o cão, ela: "Se o tempo voltasse atrás, amigão, eu gostaria de fazer tudo do mesmo jeito de novo, ser tão inconsequente quanto fui nos últimos anos e bater o pé pela minha felicidade, mesmo isso me trazendo grandes consequências. Essas grandes consequências é que fazem a gente crescer e entender, mesmo sendo complicadas muitas vezes. Simples, todo mundo tem direito de ser feliz, certo?". 

O cão transmitia todas as respostas com sua alegria: o rabo balançava de um lado para o outro, as orelhas sempre em pé, prestando atenção no papo. Após um ano vivendo em um abrigo de animais, ele estava animado com a casa nova que a velha amiga o levara para morar. O vento estava gostoso, passavam poucos carros na rua e ela continuou: "É óbvio dizer que o mundo gira em torno da busca pela  tal da felicidade (individual ou coletiva). É um sentimento muito louco porque ninguém tem a fórmula certa e provoca uma sensação inexplicável que, em si - se formos comparar com uma gripe - é igual para todo mundo. O que pouca gente sabe é que as causas, dog, são completamente diferentes. Por exemplo, latir para um gato te deixa feliz após vê-lo correr e isso não me deixaria nada excitada, sacou? Exemplo idiota. Mas isso é igual entre os seres humanos também, como se cada um fosse de uma espécie própria. E o mais alucinante: é que só nós mesmos sabemos o que faz a nossa 'espécie' feliz. Por quê? Porque todas as pessoas desse mundo são completamente diferentes, ou seja, as causas da felicidade sempre vão variar. É disso que o mundo precisa saber, antes de sair julgando outras pessoas. É como se você me achasse bizarra por usar talheres durante as refeições." 

Ela entrou na padaria com a cabeça longe, pediu um maço de cigarros, 4 reais, um absurdo. Saiu, acendeu um cigarro e prosseguiu pois o cão a pedia para continuar. "Não existe padrão, dog. Tem gente que prefere chocolate branco ao invés do preto, tem gente que prefere mostarda no lugar do ketchup. As pessoas são completamente diferentes, cabe a nós respeita-las e aceita-las como são. Não é só isso, é importante também se colocar no lugar dos outros e entender, de coração, todas as razões. E tá aí o grande problema, muita gente não respeita as diferenças e, pior ainda, não respeita o fato de que todos nós merecemos essa tal da felicidade, muito menos se coloca no lugar de alguém. A fórmula não é igual pra todo mundo, cão...Não existem erros, existem razões."

Ao chegar em casa, enquanto abria o portão, já podia ouvir vozes familiares na sala de tv. Retirou a coleira velha do cachorro, entrou em casa pelos fundos - a mesma onde passara a infância-  e, finalmente o cão lhe contou que isso era uma das coisas que a proporcionava muita felicidade (assim como tantas outras no mundo) e era importante respeitar as diferenças acima de tudo. Ninguém precisa saber, já que existem coisas que não se ensinam com palavras e pessoas que não aprendem com esse método. "Você é uma delas, garota."

Um comentário:

Ma disse...

Vc cresceu...
Me orgulho muito de vc ser quem vc é!! Bjus/ Sdds...
Mada